Outros passos
- Renato Senis Cardoso
- 22 de out. de 2015
- 2 min de leitura
Não sei por que motivo ou intento cismei em observar meus passos na areia. Misturados a tantos outros, compunha uma tela onde ficaram registradas tamanhos e tipos diversos de existências. São muitos e geralmente em pares geometricamente desenhados. Por vezes podemos encontrar uma ou outra marca solitária que, certamente, teve seu correspondente vitimizado por um vento forte, uma brisa ou simplismente sucumbiu às sedutoras idas e vindas que o tempo pemite a marés.
Alguém deveria se propôr a estudar essas marcas. Deveriam estudiosos saber explicar o porquê de tantos pares em descompassso, ou então, mesmo seguindo sempre espelhando-se um no outro, por que não se observa simetria em conformidade com o pulsar da mesma vida que os impulsiona. Parece sempre ser um dos pés mais afoito que o outro que, mais contido, parece esperar até o último instante para cautelosamente avançar.
Eventualmente os pares se alcançam. Alguns se entrelaçam parados diante do mar, quem sabe na tentativa de aquietarem os corações apaixonados, sorvendor a energia do momento e inebriando-se com a divina paisagem. Alguns se lançam ao mar e retornam exaustos registrando pegadas mais leves. Outros não se aventuram pelas águas e desaparecem na areia, voltando ao mesmo desconhecido horizonte de onde vieram.
Há ainda marcas muito mais profundas, como se houvessem pisado com carga extra. Quem sabe sejam àquelas que contam sonhos e planejam passos para um outro alguém que carregam no ventre. Quem sabe os enamorados revelando um gesto de carinho em seus braços, ou pais virtuosos e ternos segurando suas crias, como quem acredita ser possivel adiar o tempo que não querem ver passar tão depressa.
Ah como seria se tivéssemos nossos passos meticulosamente estudados? Como os classificariam? Como poder entender o registro de um sentimento através da forma? Bem, talvez seja melhor que apenas a natureza, sua fiel depositária, mantenha para si o registro, e não a forma, do que nasceu de um desejo de partir e retornou com a esperança de, quem sabe, querer continuar.
Profª Riani do Val.





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