Metade
- Renato Senis Cardoso
- 26 de set. de 2015
- 2 min de leitura
"Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio. Que a música que ouço ao longe, seja linda, ainda que tristeza Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada, mesmo que distante Porque metade de mim é partida, mas a outra metade é saudade. Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas Com fervor, apenas respeitadas como a única coisa Que resta a um homem inundado de sentimentos, Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo. Que essa minha vontade de ir embora Se transforme na calma e na paz que eu mereço. E que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada Porque metade de mim é o que penso e a outra metade é um vulcão. Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo Se torne ao menos suportável. Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso Que me lembro ter dado na infância, Porque metade de mim é a lembrança do que fui, E a outra metade eu não sei. Que não seja preciso mais do que uma simples alegria Para me fazer aquietar o espírito. E que o teu silêncio me fale cada vez mais, Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba E que ninguém a tente complicar, Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer, Porque metade de mim é plateia, e a outra metade é a canção; E que a minha loucura seja perdoada, Porque metade de mim é amor, e a outra metade... também." (Oswaldo Montenegro)

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